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terça-feira, 15 de julho de 2014

Você precisa conhecer o filho do Hamas, por Eguinaldo Hélio de Souza

Está é uma oportunidade histórica única. Conhecer por dentro o conflito palestino-israelense através dos olhos de um palestino servindo de espião para Israel é sem dúvida um privilégio. Fatos como esse talvez tenham acontecido após o término de alguma guerra. Este livro, todavia, contém as narrativas de um jovem, filho de um dos líderes e fundadores do Hamas, partido que foi um dos protagonistas dessa guerra sem trégua.

Tendo sido capturado pelo serviço secreto de Israel, o Shin Bet, Mosab Hassan Yousef foi convidado a tornar-se espião para os judeus contra o seu próprio povo, ou melhor, contra seu próprio pai. A oferta era impensável. Quando, porém, ele viu o cruel tratamento que os palestinos dispensavam aos próprios palestinos ele percebeu mais do tinha percebido até então.

Mais do que um ator, ele foi um ator e espectador ao mesmo tempo. Esteve dos dois lados do espetáculo. Ou melhor, ele esteve em três lugares: no lado palestino, no lado israelense e também nos bastidores. Além de todos esses fatores soma-se que durante todo o processo a cosmovisão e a ética cristã começaram a atuar em sua consciência. Isso lhe deu uma visão sem igual do conflito.

Todos esses fatores somados nos dão um raio-x especial do conflito palestino-israelense e revelam nuances e verdades inimagináveis. Para aqueles que confiam cegamente na imparcialidade da mídia ao cobrir o conflito, a exposição da verdade dos fatos feita por alguém inigualavelmente próximo muda toda a perspectiva.

Em um caso concreto, Israel foi acusado de enviar aviões para bombardear Gaza. A mídia divulgou amplamente esse suposto ataque e os palestinos exploraram ao máximo o evento. Ao analisar o ocorrido, Mosab percebe que não se tratava de um ataque aéreo, mas na verdade uma explosão no solo provocada pelo próprio Hamas. Episódios como esse nos dão uma ideia do quanto a distorção da mídia tem contribuído para distorções das imagens de ambos os participantes.

À medida que conhecia os dois lados, o de Israel e dos palestinos, as coisas foram se tornando claras para ele. A sinceridade de seu pai era inegável, mas o mesmo não se dava com os demais. Quando Arafat e a OLP entram em cena, ele vê a insinceridade presente. Aqueles homens não eram o exemplo de nobreza que queria parecer.

Não era apenas a manipulação da mídia que ele consegue captar e expor na sua obra, mas a manipulação do próprio islamismo. Ele sabia que o Alcorão não sancionava muitos dos atos dos homens bombas e terroristas. Que a guerra na verdade envolvia mais dinheiro e poder do que valores espirituais. A religião não passava do elemento agregador e da ferramenta ideológica utilizada para incentivas as massas.

Enquanto os palestinos e toda a comunidade muçulmana vende a ideia de que os palestinos só querem parte do território para desenvolver em paz seu país, quem tem um pouco de coerência sabe que não é bem assim. Mosab deixa isso muito claro ao dizer que é claro que ambos os lados sabiam que o Hamas não pararia antes de reconquistar todo o território de Israel, embora a independência da Palestina pudesse instaurar a paz talvez por uma ou duas décadas.

Dentre as palavras mais fortes do livro está a declaração a respeito do que seu pai de fato pensava sobre toda a questão. Ele [seu pai Hasan Yousef] via que Israel era uma realidade imutável e reconhecia muitos dos objetivos do Hamas eram ilógicos e inalcançáveis. Em algum momento seu pai reconheceu o direito de existência de Israel e ter declarado isso publicamente provocou um alvoroço.

O fato de conhecer Arafat pessoalmente e bem de perto levou-o a detestá-lo. Em certa ocasião deixou isso bem claro após limpar o rosto devido a um beijo recebido do líder da OLP. Ele percebeu que na maioria das vezes não havia uma intenção real de resolver o conflito. A ambição pelo poder e o desejo de receber apoio financeiro externo levava os líderes palestinos a prolongar o problema. As intifadas, que muitos entendiam como tendo início de forma espontânea, na verdade eram o resultado de ações bem planejadas e arquitetadas com a finalidade de trazer feridas para os palestinos e com isso culpar Israel. Em dado momento, ele desabafa: Eu me sentia frustrado com quase tudo – com a corrupção da Autoridade Nacional Palestina, a estupidez e a crueldade do Hamas e a lista aparentemente infinita de terroristas que precisavam ser presos ou eliminados.

Sua visão cristã do mundo, sua descendência direta de um dos fundadores do Hamas, seu envolvimento com o serviço secreto de Israel, tudo isso trás credibilidade à sua narrativa. Embora pessoal, ela contém elementos de objetividade e realidade que não poderá ser encontrado em outro lugar.

Suas palavras ao seu contato no Shin Bet por ocasião de sua retirada expressam de um modo real e sensível a sua percepção. Travamos uma guerra que não pode ser vencida com prisões, interrogatórios e assassinatos. Nossos inimigos são as ideologias, e elas não se importam com incursões e toques de recolher. Não podemos explodi-las com um tanque. Vocês não são o nosso problema, e nós não somos o de vocês. Somos todos como um rato preso em um labirinto. Não posso mais levar essa vida. Para mim chega.

Há muito tempo lendo e aprendendo a respeito do conflito através dos olhos de cristãos, palestinos e israelenses, posso dizer que ele conseguiu neste livro sintetizar como poucos essa situação. Vale a pena ler.


Eguinaldo Hélio de Souza

Escritor, apologeta e mestre em teologia

www.devocionaiseesbocos.wordpress.com

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